segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Simona Talma


Simona Talma é uma artista, mais precisamente uma cantora potiguar que já faz parte da cena musical há algum tempo, com diversas matérias na mídia sobre os seus trabalhos. Seja no projeto Retrovisor, por volta de 2008, seja pela Moça Mais Vagal que Há, de alguns anos antes, seja pelo Bang, lançado neste ano. Pela música e pela personalidade forte, Simona Talma tem um passado pouquíssimo explorado e, sem dúvidas, curioso.

A música na vida da cantora teve origem familiar, principalmente o jazz que o pai ouvia, o samba que o avô cantava e a Marisa Monte ou Adriana Calcanhotto que a mãe escutava. “Meu pai tocava violão e tinha um cabelo enorme… O apelido dele era Caetano! O irmão dele o chama de Caetano até hoje”. Conta Simona antes de entregar o pai. “Acho que ele tocava só pra pegar mulher”.

Isso é o começo das várias lembranças que Simona viria a contar numa conversa rápida e à vontade na área externa de sua casa. Sentada na rede e com uma xícara de café, a artista conta parte de sua vida que, segundo ela, foi exposta numa retrospectiva jamais feita.

Simona lembra do avô, que não gostava de falar e por isso cantava, assim como de quando o pai ouvia um jazz “muito louco” e a “chatíssima” música clássica. Para ela, estar imersa nesse mundo musical era inevitável. Ainda mais lembrando do rádio, que permitiu contato com a música de Chico Buarque, Maria Bethânia e Gal Costa (artistas que admira até hoje) quando criança, por volta dos 5 anos.


Além do rádio, na antiga casa que morou, também em Ponta Negra, Simona ganhou uma vitrola da mãe, aos 7 anos. Mas não era o que esperava. Aqueles discos do Balão Mágico, da Xuxa, ela achava muito infantis. Ainda mais depois de ter escutado “músicas de adulto” na rádio, anos antes.

Não muito satisfeita com o presente que ganhara, a única saída que restava era aproveitar os momentos em que o pai e a mãe não estavam no quarto para Simona poder ir escondida e ouvir rádio, ou até mesmo os discos dos pais.

Pouco tempo depois começou a fazer as primeiras composições, num piano amarelo que ganhou da mãe. “Era tudo muito infantil, as borboletas, as árvores”, diz, lembrando que costumava tocar no jardim da casa onde estávamos conversando.

Os anos passaram e ela conheceu Luiz Gadelha num centro espírita que frequentavam. As aulas de canto que costumavam ter no centro estimularam o lado que viria a desenvolver ao longo dos anos. Recordando as primeiras apresentações, Simona lembra que o gosto peculiar, vindo dos artistas pesquisados e dos ritmos estudados, formaram os primeiros repertórios, vistos com maus olhos pelo público conservador e “certinho demais”. “Aquelas pessoas costumavam nos olhar e pensar: O que é isso que eles estão cantando?!”.


Aquelas lembranças que Simona Talma começou a tecer, deitada na rede de sua varanda, chegaram à adolescência, quando a menina era “do rock” e, segundo ela mesma, ignorou toda a bagagem musical formada nos anos anteriores. “Quando estava na fase do rock, que era moda, ignorei o samba, o jazz e a MPB que meus pais me mostraram”. “Eu gostava era de Nirvana e Aerosmith. Adorava o Guns [‘n Roses], que tinha aquela cara mais romântica”. A verdade é que ela sempre preferiu o romântico. Seja nos sambas antigos, seja no jazz que fortemente influenciaram o gosto musical, digamos que definitivo, dela.

Entrou na universidade, em 1999. Frequentou o curso de Música na UFRN, um ano depois de fazer as provas para tentar entrar no curso de Psicologia da universidade. “Graças a Deus”, não passou. No curso de Música descobriu um colega que seria parceiro por vários anos à frente. Tiago Andrade foi essencial na consolidação musical de Simona Talma.

Os estudos
Na faculdade, conheceu diversas pessoas muito boas no que faziam, “que tocavam ou estudavam há dez anos”. Sérgio Farias, “um músico bem foda, que tocava pra caralho, já tinha tocado na Europa”, foi uma das pessoas que disse que “ela era uma cantora e que talvez tivesse a chance de ser uma das maiores desse país”, após ouvi-la cantar uma música de Edu Lobo. “E eu fiquei tipo: Oh, meu Deus, porque esse homem tá dizendo isso pra mim?!”.

Aos 18 anos, quando teve autorização dos pais, começou a se inscrever em cursos de música, dormindo nas filas e, ainda assim teve algumas inscrições negadas. “Fui a todas as escolas da cidade, dormia pra conseguir uma vaga. Eu não tinha estudado nada. Eu só escutava música, cantava e queria fazer aquilo”.

Simona conseguiu entrar no curso de Teoria Musical, no Solar Bela Vista, fez aulas de piano no Instituto de Música Waldemar de Almeida, aulas de canto no Conservatório de Música Fréderic Chopin, e, paralelamente, a graduação.


Teatro, poesia e blues
Após espetáculos como o Escândalo, no qual faziam uma apresentação digna do nome, e musicar alguns poemas de autores locais e nacionais, Simona Talma e Luiz Gadelha gravaram fitas demo e foram a Salvador em busca de palco. “Deu tudo errado, a gente passou fome, sofreu. E lá eu compus o primeiro disco”, lembra ao mesmo tempo em que evita dar maiores detalhes do amor que a levou a escrever aquelas composições.

Cantando predominantemente blues e samba entre outros ritmos mais sofridos, Simona assume que cantar sobre o amor é mais fácil. Após alguns conselhos de amigos, Simona garantiu que faria um CD só de blues. “Pensávamos numa gaita, aquela formação clássica do jazz, mas também ficava: ‘quem vai tocar essas coisas em Natal?’”.

Primeiro disco

Ainda na época dos shows da Moça Mais Vagal que Há, onde se mostrava
uma mulher mais sofrida, nas apresentações cheias de sentimentos (Foto: Divulgação)

Participando de um grupo de teatro com Luiz Gadelha e outros amigos artistas, depois de voltar de Salvador, os professores Marco França e Fernando Yamamoto sugeriram que os alunos inscrevessem projetos num edital. Simona decidiu que seu CD de blues sairia com a participação de Marco na direção musical e Yamamoto na direção artística.

Parte da banda natalense Mad Dogs entrou no disco dela, além de Willames Costa, tocando contra-baixo acústico, Marco França no piano, que depois foi substituído por PC, Paulo César, o “Véio”, e Tiago Andrade. Nervosos por trabalhar com uma galera já experiente, bacharéis em Música, Tiago e Simona toparam esse projeto. “Não vou ficar sozinha aqui nesse rolé”, disse ela pra ele, formando assim a banda que veio a gravar A Moça Mais Vagal que Há.


A música de Simona
Desde o primeiro CD, Simona criou um misturado de tudo que lhe agrada. Não escapam o samba, o blues, o jazz, o rock, a música negra, nem soul music. Atualmente, Bang é o álbum mais recente da cantora, gravado neste ano, expondo fusões musicais, que ela considera importante para o desenvolvimento da música contemporânea. “Ouço umas bandas pra fazer exercícios, uma banda daqui [de Natal], uma de rock, uma de blues… e assim vai me influenciando nessas fusões”.


Após participar de alguns festivais de blues e rock com o show do primeiro CD, Simona participou ainda do Projeto Retrovisor, aproximadamente em 2008, com Ângela Castro, Luiz Gadelha, Tiquinha Rodrigues e Valéria Oliveira; e montou a atual banda, Talma & Gadelha, com Luiz, Henrique Rocha, Emmily Barreto e Cris Botarelli em 2011.


[Relato do repórter] Por que falar de Simona?
Entrevistar Simona Talma foi um prazer. Conheço ela há algum tempo e sempre admirei, seja pelo trabalho, seja pela personalidade forte. Quem conhece sabe que ela não é uma pessoa fácil de lidar, assim como as músicas que faz.

Porém, o que me chamou atenção e me levou perfilar Simona foi notar que a maioria das matérias e reportagens que são feitas com artistas locais se restringem apenas ao atual, deixando de fora fatos e momentos da vida da pessoa até aquele momento que a levou a ser notícia. Por isso, escolhi falar do passado de Simona, o que ela fez, sua formação, de onde saíram suas influências, que foram as pessoas que a acompanharam, até o momento do seu primeiro disco, momento mais antigo que observo na maioria das retrospectivas feitas a respeito da vida dela.


Como tive a oportunidade de conversar de forma mais informal com ela em outras ocasiões, sabia, pelo que ela contava, que aquilo que ela passou na família, entre amigos ou entre amores, era peça fundamental daquela mulher extremamente sentimental em suas músicas.

Entrevistar Simona Talma foi uma chance que tive de conhecer mais uma pessoa que admiro pessoalmente e profissionalmente. Simona é, sim, uma das grandes cantoras desse país.



FONTE

https://ensinofotecufrn.wordpress.com/2012/12/16/de-onde-veio-simona-talma/

http://talmaegadelha.blogspot.com.br/

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