domingo, 13 de fevereiro de 2011

Synval Silva


O compositor Synval Machado da Silva, ou simplesmente Synval Silva (Juiz de Fora -14 de março de 1911 / Rio de Janeiro -14 de abril de 1994) , é homenageado pela cantora Fernanda Cunha, nos dias 18,19 e 20 de março de 2011 no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro, através de um show em homenagem ao Centenário de Synval Silva...

*Dentre os fundadores da Escola de Samba 'Império da Tijuca', desponta o nome de Synval Silva, compositor de méritos, agraciado com o título de Bacharel da Música Popular Brasileira pelo Conselho da MPB do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro(recebeu um anel de sambista), por ser um dos expoentes máximos de nossa música popular. Embora seja até considerado o 'Patriarca' do Morro da Formiga, e tenha recebido o título de Cidadão Carioca em 1967, Synval nasceu em Juiz de Fora-MG.
 
Filho de um clarinetista da Banda Euterpe Mineira, de Juiz de Fora, Synval Silva aprendeu a tocar viola ouvindo as aulas dadas por um professor ao seu irmão. Muito cedo, Synval começou a tocar em festas na cidade natal. Embora tenha aprendido muito cedo a tocar violão, instrumento no qual se desenvolveu num bom nível, despontou inicialmente aos olhos do público como clarinetista, tocando o instrumento na banda sinfônica da cidade.

Além disso, para garantir o sustento, Synval tornou-se mecânico de automóveis e também motorista particular. Compôs sua primeira música em 1927, a valsa "Lua de Prata".

Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar no Morro da Formiga. Tocou violão no Regional de Jorge Nóbrega que era contratado da Rádio Mayrink Veiga e fez parte também do Regional Good-Bye, na mesma emissora.

Nessa época, conheceu Assis Valente que, em 1934, o apresentou àquela que iria mudar para sempre a sua vida: Carmen Miranda.

Synval tornou-se o compositor favorito de Carmen - a primeira canção gravada por ela foi "Ao Voltar do Samba", ainda em 34, fazendo um grande sucesso.



Carmen prometeu dois contos de réis (um dinheirão para a época)se Synval lhe fizesse um samba que alcançasse metade do prestígio conseguido por "Ao Voltar... o resultado foi "Coração", sucesso em 1935.

Coração - 1E99 / CENTENÁRIO CARMEN MIRANDA


Coração, Governador
Da embarcação do amor,
Coração, meu companheiro
Na alegria e na dor,
A felicidade procurada corre,
E a esperança
é sempre a última que morre.
(bis)

Coração que não descansa noite e dia,
Sempre aguardando uma alegria,
Esperando no mar desta vida,
Embarcação à procura,
De um porto feliz de salvação....

Carmen então ofereceu três contos de réis por nova composição, resultando dessa vez em "Adeus Batucada".



Adeus adeus meu pandeiro de samba
Tamborim de bamba
Já é de madrugada
Vou-me embora cantando
Com meu coração chorando
E vou deixar todo mundo
Valorizando a batucada
Adeus, adeus
Meu pandeiro de samba,
Tamborim de bamba
Já é de madrugada
Vou-me embora cantando
Com meu coração chorando
E vou deixar todo mundo
Valorizando a batucada
Em criança com samba
eu vivia sonhando
Acordava estava tristonha chorando
Jóia que se perde no mar
só se encontra no fundo
Samba e Mocidade sambando
sibosa neste mundo
E do meu grande amor
sempre me despedi cantando
Mas da batucada
agora despeço chorando
E guardo no lenço
uma lágrima sentida
Adeus batucada,
adeus batucada querida



A Pequena Notável gravou ainda "Saudade de Você" e "Gente Bamba".

Outros cantores também começaram a gravar suas músicas: Aurora Miranda cantou a marcha "Amor!Amor!", Orlando Silva interpretou o samba "Agora é Tarde", Odete Amaral gravou "Alma de um Povo" e o Trio de Ouro registrou o samba "Madalena se Zangou", feito em parceria com Ubenor Santos.



Synval participava ativamente da vida do morro e em 1940 foi um dos fundadores da Escola de Samba Império da Tijuca.

Nesse mesmo ano, Ataulfo Alves gravou o samba "Geme Negro", que fez em parceria com Synval.

No início dos anos 50, o compositor esteve durante seis meses nos Estados Unidos e participou de um show, juntamente com Carmen Miranda,que percorreu todo o país, do Atlântico ao Pacífico, divertindo os soldados hospitalizados e aqueles que iriam embarcar para a Guerra da Coréia.

Voltando ao Brasil, sem conseguir viver apenas de direitos autorais, Synval voltou a trabalhar como mecânico. Com o samba "Marina", defendido por Noite Ilustrada, o compositor participou da I Bienal do Samba, da TV Record, em 1968.

"Taí o samba que você pediu, Marina/taí, eu fiz tudo e você desistiu, Marina/taí, meu amor, toda a minha afeição/e você vai me matando pouco a pouco de paixão..." Era 1968, ano da I Bienal do Samba, na TV Record, e, com essa outra "Marina", bem mais espevitada no ritmo e no proceder que a de Caymmi, Synval Silva, com a interpretação de Noite Ilustrada, brilhava numa das eliminatórias da contenda musical, ganha por Elis Regina com "Lapinha", de Baden Powell e Paulo César Pinheiro.

"Marina" é um samba que o próprio Synval regravou, aos 61 anos, na faixa de abertura do único elepê que lançou, em 1973, com arranjos de Nelsinho e Peruzzi, pela série Documento da RCA.

Em 72, apresentou-se em São Paulo como integrante do Batuk-Show, ao lado de Mano Décio da Viola e Xangô da Mangueira.

Gravou, em 73, um LP para a RCA, no qual interpretava sete músicas antigas e mais "Amor e Desencontro", composto com Marilene Amaral.



Nessa época se afastou da vida artística.



Synval Silva morreu em 14 de abril de 1994.

CURIOSIDADES


O disco "Cadáver Pega Fogo Durante o Velório", gravado em 1983, foi alvo de censura e tinha apenas nove faixas, todas assinadas por Fernando Pellon. Os sambas, interpretados por Cristina Buarque, Nadinho da Ilha, Synval Silva e outros, falavam basicamente de tragédias urbanas: suicídios, traições, crimes, doenças e atropelamentos. O disco é, por assim dizer, uma versão cantada do jornal Notícias Populares – aquele que, espremido, vertia sangue.

O texto de apresentação do encarte dizia o seguinte:

"Artificialmente limpa pelo processo Olivetti de tecladismo estéril, a MPB ultimamente não tem correspondido à violência do país que a produz. (...) Fernando Pellon vai chocar essa hipocrisia generalizada vendida com rótulo de bom gosto e status. 'Nunca gostei de eufemismo', vai logo cantando ele. E dá nome às doenças, como fazia Augusto dos Anjos, com um requinte de morbidez que ainda perde, no entanto, para a crueldade exibida diariamente por nossas autoridades mais altas. Quem quiser se assuste com Pellon, que também recobra tradições estabelecidas por arautos das campas tão divergentes quanto Nelson Cavaquinho e Vicente Celestino. Para isso, basta ouvir 'Flores de plástico ao amanhecer'. Já o nosso recente Aldir Blanc também poderia ter assinado algo tão flagrante como 'Carne no Jantar'. E por aí afora, só para que não se pense que Fernando Pellon é um estranho no ninho, ou alienista fugaz”. (AQUI)

Em 22-11-83, o professor Roberto M. Moura escreveu em O DIA:

LIBERAÇÃO DE INDEPENDENTE JÁ DEMORA MAIS DE OITO MESES

"Pronto desde março deste ano, o elepê independente de Fernando Pellon, “Cadáver Pega Fogo Durante o Velório”, atravessa desde então os sombrios e complicados desvãos da Censura Federal, com uma de suas faixas vetadas sob alegações nebulosas e pobres de detalhes. Se situação semelhante já seria difícil para uma gravadora tradicional, imagine-se o transtorno que deve estar causando ao compositor que investiu mais de dois milhões de cruzeiros num produto indiscutivelmente cultural – a começar pela participação especialíssima de artistas como Sinval Silva, Cristina Buarque de Holanda, Nadinho da Ilha, Rafael Rabello, Helvius Vilela e João de Aquino, este o autor de praticamente todos os arranjos do disco. A música censurada “Com Todas as Letras” narra a história de um suicida, contada a partir do instante em que ingeriu “uma dose letal de veneno” e sabe que “tudo está consumado”. Liberado, então, de todos os vínculos com a vida, este suicida sai pelas ruas da cidade, “blasfemando contra a vontade de Deus, contra a Pátria e a Propriedade”, num desespero bastante compreensível em quem optou pelo gesto extremo. É possível, diz Fernando Pellon, que a Censura tenha implicado com os versos “sempre gostei do vermelho, a cor do pavilhão é a cor do nosso coração”, atribuindo-lhe peso ideológico. Cândida prevenção: americano convicto, o compositor quis apenas homenagear o seu time e saudar Lamartine Babo, citando-lhe a letra do hino famoso. Impossibilitado de vender o disco, de divulgá-lo junto à imprensa ou às emissoras de rádio, anda Pellon às voltas com requerimentos, recursos, protocolos, num ir e vir interminável, que começa na Av. Venezuela e não acaba em Brasília. Membro do Conselho Superior de Cultura, Ricardo Cravo Albin interessou-se pelo disco e é provável que este apoio favoreça a liberação da faixa na próxima reunião do Conselho, marcada para dezembro. Apresentado por um texto do crítico Tárik de Souza, que saúda no novo artista o fato de “não ser um estranho no ninho ou um alienista fugaz”, Fernando Pellon é dono de uma obra compacta no estilo e original na forma, lembrando por vezes a morbidez refinada que caracterizava as poesias simbolistas de Augusto dos Anjos, mas voltada de modo ácido para a realidade atual. Seus temas são as fraquezas mais escondidas da natureza humana, que ele descobre como um cirurgião, homenageando Ernesto Narazeth sem ocultar seu fim trágico de louco; recusando-se a chamar lepra de hanseníase e justificando: nunca gostei de eufemismo. Para “vestir” musicalmente estas idéias, este geólogo de 27 anos manobra com ritmos exclusivamente nacionais: compõe sambas, choros, até uma música em forma de samba-enredo (“Flores de Plástico ao Amanhecer”), comentando com humor a indignação de um cadáver a quem a ex-amada oferta flores artificiais no Dia de Finados. O tema lúgubre torna-se inescapavelmente engraçado pelo tratamento inteligente que lhe dá o até agora clandestino Fernando Pellon, que já pensa em gravar o segundo elepê e, paradoxalmente, ainda não pode lançar o primeiro".


http://www.youtube.com/watch?v=6--Q3K-pBPk - Cicatrizes

FONTE

Agenda do Samba Choro
Rac

*Extraído do livro "Sambistas Imortais" de J. Muniz Jr.

Nenhum comentário: