sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ras Bernardo


Ras Bernardo (nome artístico de Francisco Bernardo Rangel (Belford Roxo, 1962) é um cantor brasileiro de reggae, mais conhecido por ter sido o primeiro vocalista da banda Cidade Negra.


Na década de 1980, foi convidado para integrar a banda de reggae Novo Tempo, formada por Bino Farias, Lazão e Da Gama, logo em seguida, a banda passou a se chamar Lumiar e depois, Cidade Negra, também se apresentou com as bandas as KMD-5 (futura banda Negril), Ubandu du Reggae e Don Luiz Rasta.

Participou dos dois primeiros álbuns do Cidade Negra: Lute para viver (1990) e Negro no Poder (1992), em 1994, Ras sai do grupo e em seu lugar, entrar o cantor Toni Garrido, ex-vocalista da banda Bel, de acordo com o cantor, ele se desentendeu com a sonoridade escolhida pela banda, ainda assim, continuou sendo amigo dos integrantes.

Em 1996, gravou seu primeiro álbum solo: "Atitude pátria".


Em 2006, participou da coletânea Brasil Riddims volume 1 da gravadora Digitaldubs com a canção "No morro não tem play", no ano seguinte, participa de outra coletânea da mesma gravadora: "Diáspora riddims e lança seu segundo álbum solo, "Jah é luz', Em Fevereiro de 2012, aparece em páginas policias dos jornais, após ser atingido por quatro tiros, desferidos por um vizinho, no mesmo ano, lança o álbum "Direção ao leste".

Se alguém for contar a história do reggae no Brasil terá que, obrigatoriamente, mencionar o nome de Ras Bernardo. Não dá para falar de um sem citar o outro, são histórias que correm juntas ao longo do tempo.

Tempo que vem de longe, há quase vinte anos, quando Ras Bernardo montou uma banda para participar de um pequeno festival em Belford Roxo, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Mais por intuição do que por planejamento, essa mesma banda anteciparia uma onda que somente anos mais tarde iria estourar na cena musical brasileira. Honrando toda a herança cultural que o destino lhe deu, o Cidade Negra espalhou o reggae por todo o país.


O amor continua sendo cantado em “Só Pra Te Provar” e “Cadê Você” (“Quero você, você comigo/Eu com você, aí consigo/Ficar melhor). A faixa título traz uma religiosidade arrebatada (“Andando sobre a areia do mar/Sinto os meus pés se molharem/…/Quando me vejo nas trevas vem-me um clarão/É a luz, é a luz/Do Deus que me conduz”), enquanto “Pedido de Jah” surpreende pela sua levada punk-reggae incomum e versos inflamados (“Jah pediu pra você se transformar”).


Além das composições próprias que finalmente serão mostradas ao público, Ras Bernardo também exercitou o seu lado de intérprete. Com muito estilo e personalidade ele cantou as reflexões agridoces de “A Lei” (Bernardo Vilhena e Ricardo Barreto), a doce brejeirice de “Sabiá” (Ricardo Barreto e João Sabóia), além da emocionante (e algo autobiográfica) “No Morro Não Tem Play” (Ivo Meirelles), onde o ouvinte é brindado com versos como “Brincadeira de guerra, revolvinho na mão/Seus ídolos estão ao lado/O futuro é incerto, o que se pode fazer?/Trancafiado ou morrer/No morro não tem play/No morro não tem playground”.



Para acompanhá-lo nesta viagem, foram reunidos músicos que representam o melhor do reggae do Rio de Janeiro: Alex Meirelles e Jean Pierre Magay (teclados Cidade Negra), Ronaldo Silva (percussão CidadeNegra), Bidu & Marlon (naipe Reggae B), além da baixista Noemi que já vem se destacando na banda de Ras Bernardo há algum tempo. A produção musical foi feita a quatro mãos por Nélson Meirelles (primeiro produtor do Cidade Negra, ex-baixista do Rappa) e Ricardo Barreto (compositor e guitarrista, fundador da Blitz, também com passagem pelo Cidade) e mixado por nada menos Marcus ( MPC ) Paulo do Digitaldubs . Agora lança seu novo trabalho, Direção ao Leste.

Enfim, dos parceiros e compositores aos músicos acompanhantes, passando pela dupla de produtores, um time com muitos serviços prestados ao Reggae Brasil, que fez questão de estar ao lado de Ras Bernardo neste momento tão especial. Especial porque eles, assim como muitas outras pessoas país afora, sabem da importância de vê-lo novamente em plena atividade. Ele que é um dos pioneiros, um dos responsáveis por muitas das emoções e alegrias proporcionadas pelo reggae feito aqui por brasileiros para brasileiros.

Ele que, em 1983, fundou a tão aclamada banda Cidade Negra foi sempre um cantor muito carismático.

Em Fevereiro de 2012 foi covardemente alvejado com um tiro de escopeta e sofreu diversas perfurações no abdômen, porém já está tudo bem com ele e continua fazendo show cheio de entusiasmo e energia renovada para divulgar suas antigas e novas canções do novo CD “Direção ao Leste”.

Animados pela ótima repercussão do disco de estréia, a banda decidiu ir além no seu segundo trabalho. Mais do que repetir a fórmula que havia dado certo antes, o Cidade buscou evoluir a sua própria linguagem gravando um álbum que trouxesse contemporaneidade, inovação e, por isso mesmo, algum risco. Desde o nome escolhido para o disco até os temas abordados (esquadrão da morte, desigualdade social e racial, o poder do dinheiro), passando pela sonoridade mais agressiva que incluía guitarras distorcidas, samples e bateria eletrônica, esse disco acabou sofrendo rejeição por boa parte da mídia que esperava apenas mais um “Falar A Verdade”.

“Fico vendo essas coisas/Vendo tudo acontecer/Injustiças e maldades/E o abuso do poder”, assim Ras Bernardo abria o disco numa de suas letras mais contundentes, “Negro No Poder”, a faixa-título. E concluía “Quando olham a minha gente/Nunca é pra proteger/Muitas coisas acontecem/E o meu povo resistindo/Oh Jah, negro no poder/Pra já, negro no poder”. Talvez um pouco forte demais para tocar na Turma da Xuxa… Mas o repertório do disco não era feito somente de contestação e denúncia como uma análise superficial poderia levar a crer. Em outras composições, Ras Bernardo renovava sua confiança na raça humana e nas ações positivas que qualquer um poderia fazer: “Acredito eu que as coisas estão em transformação/Acredito que, dentro do ser, há solução” (“Incandescente Ser”); “Tenho meus motivos, tenho o que é preciso/Fico positivo contra o negativo/Tomo sua força prá te derrotar” (“Há Motivos”).

Também não se pode deixar de mencionar mais uma novidade introduzida por Ras Bernardo no universo da banda: o reggae romântico. Hoje em dia pode parecer curioso mas, à época, houve uma certa resistência interna pela inclusão da belíssima “Conciliação” onde havia uma declaração de amor digna de qualquer reggaeman: “Estou aqui pra te falar/Que só o amor que dentro há/Pode nos salvar…/Pode nos salvar…”. Esta música também sobrevive até hoje no repertório do Cidade Negra, tendo sido inclusive objeto de uma versão dub feita pelo mitológico músico e produtor Augustos Pablo para o disco “Dubs”.


​Os Primeiros Anos
Corria o ano de 1987. Rio de Janeiro, bairro do Catete. Num prédio antigo e caindo aos pedaços ocupado pela lendária UNE (União Nacional dos Estudantes), começava a funcionar o NEC: Núcleo Experimental de Cultura. Esta sigla meio misteriosa, com um certo clima de ação clandestina típica anos 60, abrigava diversas manifestações culturais de resistência, entre elas o movimento reggae, como legítimo representante da cultura negra.

Dentro desse contexto, começaram a rolar alguns shows de produção precária para uma platéia bem pequena (máximo 50 pessoas) com os nomes que iam aparecendo por lá: Dom Luiz Rasta, KMD-5 (futuro Negril), Ubandu du Reggae e Lumiar. Apesar das condições bastante adversas, essas apresentações tinham um clima contagiante que proporcionavam momentos únicos e intensos, inesquecíveis para quem teve a sorte de presenciá-los.

Aos poucos a banda Lumiar foi se destacando pela sua força no palco (até então, ninguém possuía material gravado). Era um grupo que vinha da cidade satélite de Belford Roxo, há mais de 50 km dali, para mostrar seu repertório cru e suingado. À frente da banda, magnetizando a todos de microfone em punho, Ras Bernardo começava a dar os primeiros passos na sua longa trajetória musical.

Logo depois, animados pela recepção calorosa do pequeno público que resistia a tudo e teimava em prestigiar aquela ainda incipiente cena reggae, o agora rebatizado Movimento Reggae-NEC decidiu se espalhar por toda a cidade. Em 1988 não havia lugar melhor para catapultar novas idéias musicais do que o Circo Voador da Lapa. Um lugar democrático e revolucionário desde sua criação, a mítica lona do Circo acabou por se tornar o abrigo perfeito para as novas bandas de reggae que chegavam lá cheias de energia e fogo, prontas para provocar um incêndio de grandes proporções na Babilônia…

Durante um ano e meio a banda Lumiar evoluiu nos palcos e nos estúdios de ensaio. Pela primeira vez os seus componentes estavam tendo a oportunidade de burilar seu trabalho em condições minimamente aceitáveis. Eles também iam se informando cada vez mais a respeito da história do reggae: das clássicas produções dos grandes mestres às novidades que estavam então aparecendo na Jamaica e em Londres. Para Ras Bernardo todo esse fértil período de mergulho no universo do reggae de forma alguma comprometeu a sua intuição musical, a sua centelha criativa que já o havia empurrado para fora da Baixada Fluminense. Apenas trouxe mais convicção de que este era o caminho certo para expressar seus sentimentos em relação às coisas que cercavam todos aqueles que, como ele, viviam a experiência de constante luta pela sobrevivência.

Novas Atitudes
“Negro No Poder” foi um disco além do seu tempo e, talvez por isso, mal recebido pela crítica e por muitos ouvintes. Uma nova audição hoje nesse trabalho permite avaliar o quanto existe de atual na sonoridade, nos arranjos e nas letras, qualidades que não foram apreciadas à época.

Mas engana-se quem vê esse período apenas como uma coleção de insucessos para o grupo. Foi com Ras Bernardo à frente que eles iniciaram sua bem-sucedida carreira internacional. Em 1992 o Cidade abriu o show do Steel Pulse na França, com excelente repercussão junto à platéia 100% gringa. Meses depois, tornaram-se a primeira banda brasileira a pisar no palco sagrado do Sunsplash, o mais importante festival da Jamaica. Em turnê pelos Estados Unidos eles passaram por Boston, Nova Iorque (no tradicional Sounds Of Brazil) e Miami, onde se apresentaram ao lado de Ziggy Marley.

Essa experiência de ser o pioneiro do reggae brasileiro no cenário internacional acabou sendo de extrema importância para Ras Bernardo e teve reflexo claro no seu primeiro trabalho pós-Cidade, “Atitude Pátria” (Top Tape, 1996). Naquele momento ele já havia percebido a importância de se fazer um trabalho original, que contivesse não só a força do reggae jamaicano mas também a vasta musicalidade que existe em nosso País. Não fazia nenhum sentido sair do Brasil para fazer um reggae “tipo-jamaicano” ou “tipo inglês”. Ao invés de simplesmente seguir regras pré-estabelecidas que vinham de fora, ele se propôs a fazer um disco com estilo e personalidade próprios, explorando toda a liberdade de expressão da sua recém inaugurada carreira solo. Não por acaso o disco abre com “Atitude Pátria” onde se ouve “Aqui neste país podemos ser felizes sim/Todos os tipos de raça vivem aqui nesta nação/Orgulho-me dessa gente por estar aqui neste lugar/…/Nossa cultura é tão rica/Que lá fora faz-nos orgulhar”.

Ao longo das demais composições, Ras Bernardo percorre todo seu universo artístico de maneira sincera e corajosa, cantando do amor (“Incógnita”, “Só Com Amor”) à crítica social (“Abandonado”), das lembranças dos tempos de Belford Roxo (“Baixada Central”) às ironias do cotidiano (“Olha A Hora”, “Postal Do Rio”). Logicamente havia também o chamado à conscientização de “Transformai” (“Eles têm a ferramenta/Jah é nosso argumento/Acredito nessa força/Temos ela aqui dentro/Transformai, transformai pra melhor”), e a mensagem de auto-confiança e superação de “Tente Você” (“Já é hora de começar a inventar algo mais interessante/Do que ficar parado pensando no que já passou/Esperando que façam coisas que você nunca tentou/Tente você, que eu quero ver/Tente você), dois temas recorrentes em suas letras.

Com esse trabalho, portanto, Ras Bernardo conseguiu atingir dois importantes objetivos na sua carreira. Primeiro, o da exposição de seus sentimentos de maneira ampla e com muita franqueza, delimitando assim o seu espaço sem necessidade de intermediários. Além disso, pode-se dizer que ele acrescentou mais verde-e-amarelo à tradicional bandeira tricolor do reggae, assumindo o sotaque mais brasileiro da sua obra.

Desde o lançamento de “Atitude Pátria”, muitas coisas aconteceram. A onda reggae que prometia varrer o país de norte a sul enfrentou um período de maré baixa onde pouquíssimos nomes se destacaram nacionalmente. Recentemente, no entanto, uma nova safra de amantes do reggae começou a surgir e está dando novas perspectivas a esse mercado. Essa é uma geração que não presenciou a explosão inicial do reggae nacional no início dos anos 90. Para esses jovens o trabalho de Ras Bernardo ainda é pouco conhecido e permanece envolto em mistérios.

Se por um lado muitos o tem como símbolo do melhor reggae feito no Brasil, por outro lado poucos tiveram a oportunidade de comprovar o seu carisma nos palcos nem a força de sua música nas ondas de rádio. Em diversos pontos do país existe uma curiosidade crescente a respeito do seu novo trabalho, suas idéias, sua filosofia de vida. O que mais se ouve é: “Por onde anda Ras Bernardo?”

“Jah É Luz” pretende preencher essa lacuna, mostrando por inteiro o verdadeiro artista que ele é, cobrindo todos os aspectos da sua carreira. Da militância do seu tempo à frente do Cidade vieram as inéditas “Mártires” (“Chega mais porque preciso te falar/Chega mais que você precisa se conscientizar”), e “Se Não Derem” (“Essas pessoas querem pra já/O que vocês prometeram/Se não derem vão reivindicar”). Gerar felicidade talvez seja a coisa mais importante na vida de alguém que há muitos anos vem repetindo que “Deus é a vontade de estar feliz…".

FONTE

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ras_Bernardo

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